Lula assume liderança do Mercosul e afirma que bloco oferece proteção em cenário internacional incerto

 

Por Libia López INEWSRADAR

Durante a 66ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, realizada em Buenos Aires na última quinta-feira (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu oficialmente a presidência temporária do bloco regional. Em seu discurso, o chefe do Executivo brasileiro destacou que, em um mundo cada vez mais instável e ameaçador, o Mercosul representa uma forma de proteção e segurança para seus países-membros.

"Quando o cenário global é de incertezas, buscamos abrigo onde há confiança e cooperação. O Mercosul é esse porto seguro para o Brasil", afirmou Lula. Segundo ele, a permanência ativa no bloco fortalece não apenas a economia nacional, mas também a soberania regional diante de pressões externas, como o protecionismo e as oscilações nos mercados internacionais.

Cinco prioridades para o mandato brasileiro à frente do Mercosul

Ao assumir a presidência rotativa do bloco, Lula anunciou cinco eixos estratégicos que nortearão sua gestão:

  1. Reforçar o comércio dentro do bloco e com parceiros internacionais

  2. Avançar na agenda ambiental e na transição energética justa

  3. Investir em desenvolvimento tecnológico e soberania digital

  4. Enfrentar o crime organizado transnacional

  5. Ampliar os direitos sociais e a cidadania nos países do bloco

Essas ações, segundo Lula, são fundamentais para consolidar o Mercosul como uma potência regional que dialoga com o mundo em igualdade de condições, valorizando a integração produtiva, a proteção ambiental e o bem-estar social.

Fortalecimento do comércio e acordos estratégicos

O presidente brasileiro destacou a necessidade de dinamizar o comércio entre os membros do bloco e de concluir acordos com outros parceiros globais. Lula mencionou, em especial, a importância de finalizar o tratado entre Mercosul e União Europeia, considerado estratégico para ampliar o acesso dos países sul-americanos aos mercados europeus.

O governo brasileiro também pretende ampliar acordos semelhantes com blocos como a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio), o Canadá, países asiáticos e do Oriente Médio. A expectativa é que esses acordos abram uma zona de livre comércio que envolva centenas de milhões de consumidores e um Produto Interno Bruto agregado na casa dos trilhões de dólares.

Também foi mencionado o plano de flexibilizar a Tarifa Externa Comum (TEC) para tornar o bloco mais ágil frente às barreiras comerciais e retomar o Focem (Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul), um fundo voltado para projetos de infraestrutura e integração, com aporte previsto de até 1 bilhão de dólares.

Compromisso com o meio ambiente e transição energética

Outro foco da presidência brasileira será o fortalecimento da agenda ambiental. Lula ressaltou que o Brasil sediará a Conferência do Clima da ONU (COP30) em 2025, na cidade de Belém, e quer usar esse momento para posicionar o Mercosul como uma liderança global na defesa do meio ambiente.

A proposta inclui o lançamento de um plano climático regional com incentivo à agricultura de baixo carbono, rastreabilidade de cadeias produtivas e fomento às energias limpas. O presidente também anunciou a criação do programa “Mercosul Verde”, voltado para exportações sustentáveis e desenvolvimento ambientalmente responsável.

Soberania tecnológica e digital

O avanço tecnológico também foi apontado como prioridade. Lula defendeu a criação de parcerias dentro do bloco para o desenvolvimento de inteligência artificial, infraestrutura digital própria e soberania tecnológica. A ideia é que os países do Mercosul invistam conjuntamente em data centers, plataformas digitais e redes independentes, diminuindo a dependência de grandes potências tecnológicas.

Combate ao crime transnacional

Em relação à segurança pública, o presidente propôs ações coordenadas entre os países para combater o crime organizado, o tráfico de drogas e armas, o contrabando e os crimes ambientais. Uma das propostas é a criação de uma Agência Regional de Combate ao Crime Organizado e o fortalecimento da cooperação policial, com ampliação dos comandos conjuntos nas regiões de fronteira.

A medida visa reforçar a atuação contra facções que operam além das fronteiras nacionais, dificultando o controle isolado por parte dos governos.

Valorização dos direitos sociais e da integração cidadã

Lula reforçou que a integração regional deve ir além da economia. “O Mercosul precisa ser sentido pelo povo”, afirmou. Por isso, o Brasil propõe o relançamento da Cúpula Social do Mercosul e de uma nova Cúpula Sindical, com participação ativa de movimentos sociais, trabalhadores e representantes da sociedade civil.

Segundo o presidente, a integração só terá sentido se promover igualdade, trabalho digno, educação, saúde e segurança para todos. Ele destacou ainda a importância de manter o bloco comprometido com a democracia, os direitos humanos e a justiça social.

Números do comércio no Mercosul

De janeiro a maio de 2025, o comércio entre os países do Mercosul movimentou cerca de 17,5 bilhões de dólares. O Brasil, que exporta veículos, minério e produtos industrializados, apresentou um superávit de aproximadamente 3 bilhões de dólares no período. Já as importações se concentraram em produtos como trigo, automóveis e energia.

A entrada da Bolívia como membro pleno do bloco e a recente associação do Panamá foram destacadas como sinais de expansão do alcance do Mercosul na América Latina. Segundo Lula, isso fortalece a posição geopolítica e econômica do grupo regional.

Expectativas sobre o acordo com a União Europeia

A assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia é vista como uma das prioridades centrais do mandato de Lula à frente do bloco. O presidente demonstrou otimismo em concluir as negociações até dezembro deste ano, destacando a necessidade de um diálogo mais profundo entre os setores agrícolas dos dois blocos para superar impasses.

A assinatura do tratado abriria novas portas para exportadores sul-americanos e ampliaria o intercâmbio tecnológico e ambiental entre os continentes.

Críticas internas e desafios políticos

Apesar do discurso de união e fortalecimento do bloco, Lula reconheceu que existem divergências entre os países-membros. A postura crítica do presidente argentino Javier Milei, que já questionou a utilidade do Mercosul, foi mencionada de forma indireta. Lula rebateu esse tipo de posicionamento dizendo que o bloco oferece proteção diante das incertezas do cenário internacional e que a integração regional é um caminho estratégico, e não um obstáculo.

Também pontuou que cabe aos próprios países da região decidirem se querem ser grandes e influentes ou pequenos e isolados. “Somos nós que definimos o nosso papel no mundo. A América do Sul tem que se enxergar como potência e não como dependente”, afirmou.


A presidência de Lula à frente do Mercosul marca um momento de grandes expectativas para o futuro da integração regional. Com uma agenda focada em comércio, sustentabilidade, tecnologia, segurança e inclusão social, o Brasil pretende liderar um novo ciclo de fortalecimento do bloco.

No entanto, a concretização dessas metas exigirá mais do que boa vontade política: será preciso articulação, diplomacia, superação de diferenças internas e capacidade de entrega de resultados concretos. Se bem-sucedido, esse período pode marcar uma nova fase para o Mercosul — mais moderno, integrado e conectado com os desafios do século XXI.




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