Governo Federal intensifica combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e destrói infraestrutura criminosa

 


Por Libia López INEWSRADAR

Entre os dias 9 e 29 de junho, o Governo Federal realizou a chamada “Operação Asfixia”, uma ofensiva coordenada para enfraquecer de forma definitiva a logística do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY), localizada entre os estados de Roraima e Amazonas. A ação envolveu uma articulação entre diferentes órgãos federais e foi liderada pela Casa Civil da Presidência da República, com foco no desmonte da estrutura que sustenta as atividades criminosas na região.

Força-tarefa integrada

Participaram da operação agentes da Força Nacional de Segurança Pública, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Polícia Federal (PF), do Ibama, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da Força Aérea Brasileira (FAB). A atuação ocorreu tanto por terra quanto pelo ar, com reforço na vigilância do espaço aéreo na chamada Zona de Identificação de Defesa Aérea (ZIDA 41), onde aeronaves irregulares foram monitoradas e neutralizadas.

Destruição de pistas e bloqueio aéreo

Um dos focos da operação foi desarticular as rotas de abastecimento por via aérea. Duas pistas clandestinas, conhecidas como “Mukuin” e “Noronha”, foram destruídas. Ambas estavam localizadas em pontos estratégicos e eram usadas por aeronaves que transportavam combustível, alimentos e equipamentos para os garimpos. Uma das pistas já havia sido utilizada em ações anteriores de fuga e apoio logístico por grupos criminosos.

Além disso, 33 aeronaves foram inspecionadas em áreas como Samaúma e Campos Novos, aldeias onde há suspeita de cooptação por parte de garimpeiros. Duas aeronaves foram completamente inutilizadas: uma foi abatida pela FAB após voar em área restrita e ignorar orientações de pouso; a outra foi destruída no solo pelas equipes operacionais.

Estruturas de garimpo desmontadas

Durante a operação, foram destruídas 14 áreas de acampamento utilizadas por garimpeiros, além de 67 barracos, 12 cozinhas improvisadas, geradores de energia, embarcações, quadriciclos, motosserras e até eletrodomésticos levados clandestinamente para uso nas instalações ilegais. A estrutura desmantelada evidencia o grau de organização do garimpo ilegal, que conta com logística complexa e alto poder de investimento.

As forças também apreenderam placas solares, bombas d’água, materiais elétricos e grandes quantidades de alimentos e bebidas estocadas — indicando a intenção dos grupos de manter ocupações prolongadas nas áreas invadidas.

Combustíveis e substâncias tóxicas apreendidos

Mais de quatro mil litros de combustível, entre diesel e gasolina, foram apreendidos, tanto em pontos clandestinos quanto em áreas de transporte rodoviário ilegal. Também foram encontrados 15 gramas de ouro, cerca de 600 gramas de mercúrio e 29 frascos de cianeto — substâncias altamente tóxicas e perigosas, utilizadas para separar o ouro de outros materiais, com enorme potencial de contaminação de rios e do solo.

Em Boa Vista, capital de Roraima, outra frente de fiscalização apreendeu 3.080 litros de combustíveis armazenados irregularmente em um depósito, com indícios de serem destinados ao abastecimento de aeronaves ligadas ao garimpo.

Equipamentos de comunicação e armamento

Na lista de apreensões também constam cinco antenas Starlink, utilizadas pelos garimpeiros para garantir conexão com a internet em áreas remotas, além de rádios comunicadores, baterias de grande porte e uma arma de fogo com diversas munições. Esses equipamentos são fundamentais para a coordenação das atividades criminosas e para escapar da vigilância das autoridades.

Apoio das comunidades indígenas

Moradores das comunidades de Samaúma e Campos Novos, antes alvos de tentativas de cooptação por parte dos garimpeiros, passaram a colaborar com as forças de segurança, oferecendo informações sobre pistas clandestinas, depósitos e movimentações suspeitas. Esse apoio tem sido essencial para o avanço das ações de fiscalização e desmantelamento das redes ilegais.

Segundo relatos, há crescente indignação por parte dos indígenas com os impactos do garimpo na saúde e no meio ambiente. Além da contaminação dos rios por mercúrio, a presença constante de garimpeiros afeta diretamente o modo de vida das comunidades, gerando conflitos, doenças e destruição da floresta.

Reforço na fronteira com a Venezuela

Simultaneamente à operação brasileira, forças da Venezuela atuaram na região do garimpo de Taboca, na zona fronteiriça. Na ação, foram destruídas sete aeronaves, um helicóptero, cinco acampamentos e cerca de sete mil litros de combustível. Essa operação coordenada fortalece o cerco internacional aos grupos que atuam na mineração ilegal em território Yanomami.

Avaliação do governo

O secretário-executivo da Casa Civil, Nilton Tubino, afirmou que a operação cumpriu seus objetivos ao desmantelar pontos estratégicos de apoio logístico aos garimpos ilegais. No entanto, destacou que a missão ainda está em curso. “Vamos seguir atuando. O combate ao garimpo ilegal na Terra Yanomami é permanente. A estratégia é impedir a reocupação das áreas e manter a presença do Estado”, disse.

Tubino também reforçou que novas fases da operação estão previstas, com uso intensivo de tecnologia de monitoramento por satélite, sistemas de inteligência financeira e reforço das barreiras físicas e policiais nos acessos à região.

Uma nova estratégia de proteção

A Operação Asfixia marca uma virada na forma como o governo federal tem enfrentado o garimpo ilegal em terras indígenas. Ao invés de apenas reprimir garimpeiros em ações pontuais, a nova estratégia é cortar as rotas de abastecimento, bloquear a entrada de combustível e alimentos, destruir pistas clandestinas e remover toda a estrutura que sustenta a atividade criminosa.

O objetivo é tornar inviável economicamente a permanência dos grupos ilegais nas áreas protegidas, sem depender exclusivamente de confrontos diretos, que costumam ser de alto risco e muitas vezes ineficazes a longo prazo.

Perspectivas

Embora a operação represente um avanço importante no enfrentamento ao garimpo ilegal, o desafio de proteger a Terra Indígena Yanomami continua. O território, um dos maiores do Brasil, possui áreas de difícil acesso e ainda abriga focos isolados de invasores. A continuidade das ações integradas e o fortalecimento da presença estatal serão determinantes para consolidar os resultados obtidos.

A proteção dos povos originários e da floresta depende, cada vez mais, de políticas públicas estruturadas, fiscalização constante e cooperação internacional. A Operação Asfixia demonstra que, quando há vontade política e coordenação entre instituições, é possível enfraquecer o crime ambiental e proteger as populações indígenas ameaçadas.

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Libia López Jornalismo-Repórter News working in Brasil

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