Cúpula do BRICS no Rio reforça protagonismo de Lula em meio a ausências estratégicas


 Por Libia López INEWSR

A próxima cúpula do BRICS, marcada para os dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, será um marco para o Brasil e, especialmente, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a ausência de líderes de algumas das maiores potências do bloco, o cenário se desenha favorável para que Lula exerça um papel central nos debates e na condução política do encontro.

Reunião esvaziada dos líderes tradicionais

Pela primeira vez desde sua entrada no bloco, o presidente da China, Xi Jinping, não comparecerá presencialmente à cúpula. O governo chinês alegou conflitos de agenda e designou o primeiro-ministro Li Qiang para representá-lo. Outro peso-pesado ausente será Vladimir Putin, da Rússia. Mesmo com convite do governo brasileiro, o presidente russo optou por participar virtualmente, preocupado com o mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional. No seu lugar, estará o chanceler Sergey Lavrov.

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, recém-eleito, ainda não confirmou presença. Apesar do recente cessar-fogo com Israel, ainda há preocupações quanto à segurança de seu deslocamento até o Brasil. A ausência ou presença de Pezeshkian terá impacto direto sobre os rumos políticos da reunião, especialmente pela recente adesão iraniana ao bloco.

Espaço para protagonismo brasileiro

Com a ausência de figuras influentes como Xi e Putin, a liderança política do Brasil deverá ganhar mais visibilidade. Lula, que já ocupa posição de destaque por ser o anfitrião do encontro, tende a conduzir os principais painéis e encontros bilaterais. Também será responsável por orientar discussões técnicas e buscar consensos entre os dez países membros do grupo.

A cúpula acontece num momento em que o Brasil tenta se firmar como voz articuladora do Sul Global. A diplomacia brasileira tem defendido a importância de uma nova governança internacional, mais plural, e Lula deverá reforçar essa visão ao longo dos dois dias de reunião.

Temas em destaque

Entre os principais tópicos da agenda estão propostas de reforma das instituições multilaterais, em especial o Conselho de Segurança da ONU, tema caro ao Brasil e à Índia. Ambos os países reivindicam assentos permanentes no órgão e defendem uma estrutura mais representativa dos países em desenvolvimento. No entanto, essa proposta encontra resistências internas, principalmente da China e da Rússia, que temem perder protagonismo ou influências geopolíticas.

Outro ponto de atenção será a cooperação financeira entre os países do BRICS. Nos bastidores, discute-se a possibilidade de ampliar o uso de moedas locais nas transações comerciais entre os membros, como forma de reduzir a dependência do dólar. China e Rússia são entusiastas dessa proposta, mas Brasil, Índia e África do Sul demonstram cautela, temendo repercussões com parceiros ocidentais.

A cúpula também tratará de temas como saúde global, combate à desigualdade, segurança alimentar, avanços tecnológicos, inteligência artificial e mudanças climáticas. Espera-se que o encontro produza declarações conjuntas em defesa de uma ordem mundial multipolar e em oposição a sanções unilaterais.

Expansão e nova configuração do BRICS

Com a recente incorporação de novos países como Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia, o BRICS amplia sua atuação e reforça sua presença em diferentes regiões. Essa expansão, porém, também desafia a unidade do grupo, que agora precisa lidar com interesses e culturas políticas bastante distintas.

O Brasil tem atuado para garantir equilíbrio nas decisões, evitando que o grupo se transforme em uma ferramenta de confronto entre blocos. O governo brasileiro aposta em um BRICS mais voltado à cooperação técnica, ao comércio justo e à construção de alternativas diplomáticas aos conflitos globais.

Análises e expectativas

Especialistas em relações internacionais apontam que a ausência de líderes como Xi Jinping e Vladimir Putin, embora simbolicamente negativa, pode favorecer um ambiente mais pragmático. Sem o peso das grandes potências no centro das atenções, o encontro poderá avançar em temas técnicos e acordos mais objetivos.

Analistas também destacam que Lula possui habilidade política para articular consensos e aproveitar a ausência dos rivais para fortalecer a imagem do Brasil como líder do Sul Global. Ao mesmo tempo, o país precisa manter equilíbrio, evitando desagradar os países ausentes ou alinhar-se a blocos rivais.

Outro desafio será lidar com a complexidade trazida pela presença do Irã. Mesmo que o presidente iraniano não compareça, a inclusão do país no BRICS traz consigo tensões geopolíticas significativas. A diplomacia brasileira terá que administrar com cuidado esse novo cenário.

Oportunidade histórica

Esta cúpula pode se tornar um marco para a política externa brasileira. Com os olhos do mundo voltados para o Rio de Janeiro, o governo Lula tem a chance de mostrar capacidade de liderança, articulação multilateral e compromisso com uma nova ordem internacional mais justa e inclusiva.

A ausência de alguns presidentes, longe de enfraquecer o encontro, pode abrir espaço para que novos atores ganhem visibilidade e influenciem os rumos do BRICS nos próximos anos. O Brasil, com sua tradição diplomática e posição estratégica, está em condições de assumir esse papel.


A cúpula do BRICS de 2025 representa, ao mesmo tempo, um desafio e uma grande oportunidade para o Brasil. Com Lula à frente dos debates e a ausência de líderes importantes de outras potências, o país poderá assumir o comando das negociações e imprimir sua visão sobre o futuro do bloco. Mais do que nunca, o encontro será um termômetro do equilíbrio entre pragmatismo diplomático, ambições nacionais e cooperação global.

About Administrador

Libia López Jornalismo-Repórter News working in Brasil

0 Comments:

Postar um comentário